A depressão é uma condição que afeta pessoas de todas as idades, mas, na terceira idade, ela pode ter algumas particularidades. Dados de uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2019 indicavam que aproximadamente 13% da população entre 60 e 64 anos sofria de depressão. Esse número tende a ser ainda maior nos dias de hoje, devido a diversos fatores. Entre os principais estão a perda de papéis sociais e algumas doenças associadas ao envelhecimento. Nesse texto, os especialistas Dr. Rafael Frizzero e o Dr. Emerson de Paula apontam os impactos da depressão na saúde dos idosos.
Perda do papel social
Um dos fatores mais comuns que levam à depressão em idosos é a perda do papel social. Ao longo da vida, muitas pessoas constroem suas identidades em torno de suas funções sociais, como o trabalho ou o papel de mãe, pai, cônjuge, entre outros. Quando, por exemplo, uma pessoa se aposenta ou perde o cônjuge, pode surgir um sentimento de inutilidade, o que contribui para o desenvolvimento da depressão. A sensação de que não há mais uma razão para continuar desempenhando um papel ativo na sociedade ou na família é muito comum nesse público.
Além disso, eventos como a viuvez ou o afastamento dos filhos também podem desencadear o início de um quadro depressivo. Isso ocorre quando a pessoa passa a se sentir isolada ou sem suporte emocional, o que acaba impactando diretamente sua saúde mental.
Comorbidades clínicas
Outro fator que pode contribuir para a depressão em idosos são as comorbidades clínicas. Doenças crônicas, como insuficiência cardíaca, por exemplo, podem limitar a mobilidade do paciente e reduzir sua capacidade de realizar atividades físicas, o que acaba afetando o bem-estar mental. Além disso, doenças neurológicas, como Alzheimer ou demência por corpos de Lewy, também são associadas ao surgimento de sintomas depressivos, que, muitas vezes, podem ser confundidos com a própria depressão.
Sintomas e diagnóstico da depressão na terceira idade
Os sintomas da depressão em idosos nem sempre são fáceis de identificar. Enquanto pessoas mais jovens conseguem relatar de forma mais clara o que estão sentindo, os idosos, muitas vezes, não têm essa mesma facilidade. Isso exige uma investigação cuidadosa por parte dos profissionais de saúde, que devem observar sinais como perda de funcionalidade, isolamento social e a ausência de prazer em atividades que antes eram prazerosas. Esse último ponto, a chamada anedonia, é um dos sintomas mais comuns da depressão em qualquer faixa etária, mas, em idosos, ele pode ser confundido com outras condições de saúde.
Outro fator importante a ser observado é o impacto da depressão na cognição dos idosos. Muitas vezes, um idoso depressivo apresenta comprometimento cognitivo, como dificuldade de concentração e de memória. Esses sintomas podem ser confundidos com os de doenças neurodegenerativas, o que torna o diagnóstico ainda mais desafiador.
Impacto da pandemia na saúde mental dos idosos
A pandemia de COVID-19 trouxe consequências severas para a saúde mental da população idosa. O isolamento social imposto durante esse período foi um dos fatores que mais contribuíram para o aumento dos casos de depressão e outras condições relacionadas à saúde mental. Muitos idosos, até hoje, não conseguiram retomar suas atividades sociais ou físicas, como frequentar academias, igrejas ou participar de encontros sociais, o que agrava o problema.
Além disso, o medo de contrair a doença e a sensação de vulnerabilidade também foram fatores que aumentaram os níveis de ansiedade e depressão neste grupo. A falta de flexibilidade e dificuldade de adaptação, características comuns em pessoas mais velhas, contribuíram para que muitos idosos permanecessem isolados e sem estímulo social, o que impactou ainda mais sua saúde mental.
Como incentivar os idosos a voltarem a se socializar
Para que os idosos voltem a ter uma vida social ativa, é fundamental o apoio da família. A presença e o estímulo da família são essenciais para que o idoso volte a se sentir integrado à sociedade. Participar de atividades que envolvam outras pessoas, como aulas, clubes ou até mesmo pequenos grupos de convivência, pode ser uma ótima forma de incentivar essa retomada. Atividades cognitivamente desafiadoras, como aprender algo novo, também são altamente recomendadas.
Além disso, é importante que o idoso encontre novas formas de se sentir útil e ativo. Isso pode significar encontrar novos interesses ou formas de contribuir com a família ou a comunidade. O que realmente importa é ajudar essa pessoa a redescobrir um propósito que faça sentido para ela.
Diferenças entre depressão em idosos e jovens
A depressão em idosos pode se apresentar de maneira diferente da que ocorre em pessoas mais jovens. Enquanto os mais jovens costumam relatar com mais clareza os sentimentos de tristeza e desesperança, os idosos podem manifestar a depressão por meio de sintomas físicos, como fadiga, dores crônicas ou dificuldade de concentração. Muitas vezes, esses sintomas são confundidos com os próprios efeitos do envelhecimento ou de outras doenças, o que torna o diagnóstico mais difícil.
Nos idosos, a depressão também pode estar associada a um comprometimento cognitivo, que, em alguns casos, pode ser confundido com doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. No entanto, ao tratar a depressão, é possível observar uma melhora significativa nos sintomas cognitivos, algo que não ocorre nas doenças neurodegenerativas.
Menopausa e saúde mental
Embora a menopausa não esteja diretamente relacionada à terceira idade, é importante mencionar que essa fase pode influenciar a saúde mental das mulheres. A menopausa provoca uma série de mudanças hormonais que podem afetar o humor, levando a sintomas depressivos em algumas mulheres. Portanto, é importante ficar atento aos sinais e procurar ajuda profissional se necessário.
Prevenção da depressão na terceira idade
Embora não seja possível prevenir completamente a depressão, há medidas que podem ser adotadas para reduzir significativamente as chances de seu surgimento. Manter um acompanhamento médico regular é uma delas. Para idosos que já tiveram episódios depressivos, o acompanhamento deve ser ainda mais próximo, já que há uma maior chance de recaída.
Outro fator importante é cuidar das condições clínicas que podem contribuir para a depressão. Doenças crônicas, como hipertensão ou diabetes, devem ser monitoradas e tratadas adequadamente para evitar complicações que possam afetar a saúde mental. Manter uma vida social ativa e encontrar formas de se sentir útil e conectado também são medidas eficazes para prevenir a depressão.
Por fim, é fundamental que as famílias estejam atentas aos sinais de depressão em seus idosos e os incentivem a manter hábitos saudáveis, tanto física quanto emocionalmente. O apoio familiar e social é um dos pilares para uma boa saúde mental na terceira idade.