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A relação entre dívidas e saúde mental é uma questão cada vez mais debatida e relevante, principalmente em tempos de crise econômica. O endividamento pode afetar diretamente o bem-estar das pessoas, gerando consequências sérias para a saúde mental, como ansiedade e depressão. Mas como isso acontece e o que podemos fazer para evitar que esse problema se torne um fardo ainda maior?

Para explorar esse tema com profundidade, levamos este tema para o nosso programa Calma Aí, com a presença do psiquiatra e CEO do Espao Calmamente Dr. David Sender, e a psicóloga e mentora de negócios Neíla Kessler.

Quando uma pessoa está endividada, o nível de estresse tende a aumentar, desencadeando uma série de reações físicas e emocionais. A ansiedade costuma ser o primeiro sintoma, seguido por problemas de sono, irritabilidade e, em casos mais graves, até mesmo depressão. Isso ocorre porque a pessoa endividada entra em um estado constante de alerta, preocupada com o que vai fazer para resolver a situação. Essa sensação de insegurança financeira acaba afetando o funcionamento psíquico e, eventualmente, sua saúde como um todo.

Em consultas terapêuticas, é comum encontrar pessoas que relatam sintomas de ansiedade e depressão relacionados a problemas financeiros. A dívida, em muitos casos, atua como um fator que agrava condições preexistentes ou gera novos problemas emocionais, se tornando um círculo vicioso.

Ligação entre o dinheiro e o emocional

O dinheiro, em si, carrega um significado muito profundo para cada pessoa. Para alguns, ele representa segurança; para outros, poder ou até mesmo liberdade. A forma como cada indivíduo lida com o dinheiro está muitas vezes ligada à sua criação e às experiências familiares. Se, na infância, o dinheiro sempre foi motivo de preocupação, é provável que, na vida adulta, a relação com ele seja complicada. Esse histórico financeiro pessoal pode influenciar a maneira como as pessoas enfrentam o endividamento.

Além disso, o endividamento também está associado a outros problemas de saúde, como dores crônicas, que por sua vez, podem agravar a ansiedade e a depressão. Isso cria uma cadeia de fatores que, se não forem interrompidos, levam a um desgaste ainda maior.

As fases do endividamento

O processo de endividamento não acontece da noite para o dia. Ele passa por diferentes etapas, e é importante reconhecê-las para evitar que a situação fuja do controle. Uma das primeiras fases é o consumo por satisfação imediata, onde a pessoa gasta dentro do que pode, mas apenas pelo prazer do ato. Embora pareça inofensivo, esse comportamento pode se tornar problemático se o consumo passar a ser a principal fonte de satisfação emocional.

Com o tempo, o consumo aumenta, surgem as primeiras dívidas, e, aos poucos, o uso de crédito que não pertence à pessoa (cheque especial, empréstimos) se torna recorrente. Na quarta fase, o endividamento já é crônico, com a pessoa precisando escolher quais contas pagar e quais deixar para depois, acumulando dívidas e perdendo a capacidade de organizar sua vida financeira.

Na última fase, o problema já é tão grande que afeta diretamente a saúde emocional. A pessoa se sente incapaz de reagir e o estresse toma conta, deixando-a emocionalmente esgotada. Por isso, é fundamental que, ao perceber os primeiros sinais de descontrole financeiro, a pessoa busque ajuda e repense sua relação com o dinheiro.

Relacionamentos e finanças

O impacto do endividamento não se restringe apenas ao indivíduo. Em relacionamentos, a forma como cada um lida com o dinheiro pode afetar diretamente a dinâmica do casal. Se um é mais cuidadoso e o outro é desorganizado financeiramente, os conflitos podem surgir, e isso acaba afetando a relação. Muitas vezes, o endividamento é motivo de discussões, porque um dos parceiros pode sentir que está sendo sobrecarregado pela irresponsabilidade financeira do outro.

Portanto, é importante que o casal converse abertamente sobre finanças e estabeleça objetivos em comum. A ideia não é apenas evitar dívidas, mas encontrar um equilíbrio financeiro que traga segurança para ambos.

Como lidar com as dívidas de forma saudável?

Ao contrário do que muitos pensam, as dívidas não precisam ser uma sentença. O mais importante é ter consciência de que há formas de sair dessa situação e que isso exige planejamento e controle. O primeiro passo é reconhecer o problema e não alimentar o ciclo de compras por satisfação imediata. Estabelecer prioridades, controlar os gastos e buscar alternativas para renegociar dívidas podem ajudar a trazer mais tranquilidade e evitar que o problema afete ainda mais a saúde emocional.

Além disso, é essencial trabalhar a motivação de uma forma mais saudável. Muitas pessoas utilizam as dívidas como um impulso para trabalhar mais, mas essa motivação baseada na dor pode levar à exaustão e ao desgaste emocional. O ideal é focar em objetivos que tragam satisfação, como realizar um sonho ou garantir uma vida financeira mais tranquila.