A mente dos indivíduos com TDAH sempre desperta curiosidade e debate. Profissionais da saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, analisam como o cérebro se comporta diante das características desse transtorno, como a impulsividade e a dificuldade em manter a atenção. Especialistas em neurociência exploram as particularidades das conexões cerebrais e o papel de neurotransmissores, revelando como as disfunções na dopamina e na norepinefrina influenciam o cotidiano de quem vive com TDAH. Ao longo deste texto, contamos com a visão dos especialistas Dr. David Sender e a Dra. Paula Paranhos, apresentando as nuances desse transtorno, dissipando mitos e esclarecendo os mecanismos que moldam a experiência do TDAH.
Como funciona o cérebro de uma pessoa com TDAH?
Quando falamos do cérebro de uma pessoa com TDAH, é essencial destacar o funcionamento das chamadas áreas cognitivas. São elas que envolvem funções como memória, percepção, atenção, linguagem e as funções executivas. E, ao contrário do que muitos pensam, o déficit de atenção não é sempre evidente em todas essas áreas.
Por exemplo, em alguns casos, mesmo durante testes neuropsicológicos, a atenção de uma pessoa com TDAH pode não apresentar um resultado alterado. No entanto, outras áreas, como a velocidade de processamento de informações, costumam ser afetadas. Essa lentidão pode gerar dificuldades de compreensão, e a pessoa acaba precisando que certas explicações sejam repetidas.
Outro ponto comum é a memória. Pessoas com TDAH podem apresentar falhas em sua memória de curto prazo, o que prejudica a capacidade de planejamento e organização. Isso não significa que sejam desatentas, mas que seu cérebro processa as informações de maneira diferente, gerando uma desorganização no pensamento e nas ações do dia a dia.
A complexidade do diagnóstico TDAH
Muitas pessoas, ao perceberem uma dificuldade de concentração, logo suspeitam de TDAH. No entanto, o diagnóstico é muito mais complexo do que simplesmente verificar se a pessoa está distraída. Há uma pesquisa interessante que ilustra essa complexidade: ao questionar professores, pais e os próprios adolescentes sobre a presença de sintomas de TDAH, as respostas variaram significativamente. Enquanto os pais acreditavam que cerca de 8 a 9% das crianças tinham o transtorno, os professores apontavam 13%, e os adolescentes concordavam com a estimativa dos pais.
O diagnóstico exige uma avaliação criteriosa do neurodesenvolvimento, com base em uma história clínica detalhada. É fundamental que os sintomas apareçam antes dos 12 anos de idade. Por isso, quando um adulto diz que “de repente” começou a ter sintomas de TDAH, geralmente em momentos de maior demanda, como vestibulares ou concursos, é necessário investigar melhor. Os sintomas podem até se intensificar nessas fases, mas o transtorno deve apresentar um histórico desde a infância.
O impacto do TDAH nas diversas áreas da vida
O TDAH não afeta apenas o desempenho acadêmico. O transtorno também impacta outras áreas funcionais da vida, como as relações sociais, a vida doméstica, o trabalho e até a condução no trânsito. Por exemplo, pessoas com TDAH costumam ter uma dificuldade maior em organizar tarefas cotidianas e em manter suas responsabilidades em ordem.
Um ponto interessante é que algumas pessoas podem apresentar um foco extremo em determinadas áreas, como nos estudos, e ainda assim ter o transtorno. É comum encontrar crianças ou adolescentes com excelente desempenho acadêmico, mas que enfrentam grandes dificuldades em outras áreas da vida, como a social e a emocional. Com o tempo, esses desafios podem se tornar mais evidentes na fase adulta.
E os tratamentos?
Quando falamos de tratamentos para TDAH, um dos mais conhecidos é o uso de psicoestimulantes, como a Ritalina e o Venvanse. Apesar de algumas preocupações sobre os efeitos a longo prazo, estudos mostram que esses medicamentos podem trazer benefícios importantes, como a redução do índice de acidentes e até melhorias na vida social e emocional.
Porém, é preciso lembrar que o tratamento medicamentoso não é o único caminho. O acompanhamento neuropsicológico é essencial para um tratamento eficaz, ajudando a pessoa a entender suas limitações e desenvolver estratégias para lidar com os sintomas. O tratamento envolve, principalmente, a busca por um equilíbrio entre as diferentes áreas da vida do paciente, com foco na melhora da qualidade de vida.
Diferença entre o cérebro de crianças e adultos com TDAH
Outra questão importante é que o cérebro de uma criança com TDAH não se desenvolve da mesma maneira que o de uma criança sem o transtorno. Estudos mostram que a maturação do cérebro acontece de maneira mais lenta em algumas áreas, principalmente nas relacionadas às funções executivas. Essas áreas são fundamentais para a autorregulação, planejamento e controle de impulsos.
Conforme a criança cresce, essas áreas podem se normalizar em termos de desenvolvimento, mas isso não significa que o TDAH desaparece. O adulto com TDAH continua a apresentar desafios, mesmo que seu cérebro tenha se desenvolvido de forma mais “completa” em termos de estrutura.
O TDAH é um transtorno complexo que afeta várias áreas do cérebro e da vida de uma pessoa. O diagnóstico e tratamento adequados são fundamentais para melhorar a qualidade de vida daqueles que convivem com o transtorno. A compreensão das diferenças no funcionamento cerebral e o impacto do TDAH em diferentes fases da vida ajudam a construir estratégias mais eficazes para lidar com os sintomas. Portanto, se você suspeita que pode ter TDAH, é importante procurar ajuda especializada para uma avaliação adequada e um acompanhamento individualizado.